Direitos de transmissão (2019-2024): Como extrair +receitas e +benefícios para o Flamengo?

FLA EINa última sexta-feira, foram publicados no BLOG DO RODRIGO MATTOS, detalhes sobre a proposta da GLOBO ao Flamengo. Esta proposta será votada nesta terça-feira, dia 05 de abril, pelo Conselho Deliberativo do clube.

Rapidamente uma grande discussão se instalou entre torcedores e associados do clube, especialmente nas redes sociais. De um lado, muitos valorizam e comemoram o aumento nos valores e a manutenção da liderança das receitas frente aos demais clubes brasileiros. De outro, muitos questionamentos sobre o mau negócio de ficar preso a um contrato com as organizações Globo até o ano de 2024.

Outra polêmica gira em torno das luvas oferecidas pela assinatura do contrato, no valor de 120 milhões, em 3 parcelas. Da mesma forma, alguns torcedores adotam discurso de alívio pela possibilidade de recursos extras num momento em que o clube tem previsão de receitas de patrocínio para 2016 de apenas 20 milhões da Caixa. De outro lado, muitos questionam que se trataria de uma antecipação de receitas antecipada, visto que a atual gestão receberia agora valores por um contrato que começará a valer apenas em 2019.

No meio desta polêmica, ainda há a presença da Turner Broadcasting System, Inc., uma gigante da mídia mundial, detentora de canais como TNT, TCM, Space, Cartoon Network, Boomerang, CNN, dentre outros. Através do seu canal Esporte Interativo, a Turner entrou forte no mercado de TV fechada e ofereceu para o mesmo período (2019 a 2024), pagar 9 vezes mais que o atual contrato da Globo pelos direitos de transmissão da TV Fechada, num total de 550 milhões por temporada.

Mas diante de uma diferença tão grande de valores, qual seria a polêmica? Por que não aceitar a proposta claramente mais vantajosa do ponto de vista financeiro?

O cálculo não é assim tão simples. Para entendermos melhor como podemos comparar as propostas, é preciso antes entender a modalidade em que esses conteúdos estão sendo negociados.

A União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro – Clube dos Treze e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE firmaram, em 20 de outubro de 2010, o Termo de Compromisso de Cessação de Prática – TCC nos autos do Processo Administrativo nº 08012.006504/1997-11, consoante o artigo 53 da Lei 8.884/94.

Este compromisso teve por objeto “preservar e proteger as condições concorrenciais para comercialização dos direitos de captação, fixação, exibição e transmissão dos jogos do (Campeonato de Futebol Brasileiro – Série A) nas modalidades de televisão aberta, televisão fechada, pay-per-view, internet e telefonia móvel”.

Para o alcance deste objetivo, em síntese, o Clube dos Treze se obrigou em:

  • Abster-se de utilizar a cláusula de preferência ou outra de mesma natureza nos novos contratos de comercialização dos direitos de transmissão dos jogos do CBFA;
  • Realizar a venda dos direitos de transmissão dos jogos do CBFA de modo separado para cada uma das cinco modalidades, podendo facultar aos interessados realizar propostas isoladas, combinadas ou conjuntas pelas modalidades;
  • Definir critérios claros e objetivos na realização das concorrências para venda dos direitos de transmissão do campeonato;
  • Permitir ao vencedor do certame, na mídia televisão aberta, sublicenciar os direitos adquiridos a terceiros. Havendo sublicenciamento, o sublicenciado poderá escolher livremente, dentre os jogos selecionados para televisão aberta, aquele que transmitirá a cada rodada.

Ofertas conjuntas prejudicam a concorrência, pois dificultam a precificação dos direitos em diferentes mídias. Por isso o CADE, acertadamente, buscou disciplinar esta prática para o bem do futebol brasileiro. Com esta decisão, abriu-se um novo cenário, até então inexistente, de real concorrência para a aquisição de direitos de transmissão de futebol no Brasil, pois o único canal que se habilitava a negociar e veicular conteúdo conjuntamente pelas 5 modalidades era a Globo.

Ao definir a negociação separada pelas 5 modalidades, os clubes passariam a ter uma vantagem ao receber mais de uma oferta por cada plataforma, buscando assim, o recebimento de um valor maior por cada uma das modalidades.

Por exemplo, na plataforma de TV Aberta, poderiam passar a disputar com a Globo, a Record, a RedeTV, a Band… Já na TV Fechada, poderiam disputar com a SPORTV (Canal da Globo pra TV Fechada), a Esporte Interativo, a Fox…

Diante deste cenário, se instalou ao longo de 2015 e agora em 2016, uma forte disputa entre Globo e Turner, pela aquisição dos direitos de transmissão da TV Fechada. Pelo lado da Turner, pesam na balança o maior aporte financeiro, o compartilhamento do conteúdo com os clubes e o compromisso de nominar as arenas pelos seus nomes comerciais durantes as transmissões, o que valoriza aqueles ativos que fizeram venda de Naming Rights. Pelo lado da Globo, pesam o histórico de relacionamento com os clubes, e um certo receio por parte destes de que ao negociar em separado cada plataforma, se fragilizariam em negociações para aquelas em que não aparecesse concorrência.

Mas em relação ao Flamengo? Qual é a melhor proposta?

Aparentemente o Flamengo não recebeu ou descartou qualquer proposta da Turner/Esporte Interativo que não fosse para as 5 plataformas, e isso deixou a negociação restrita à Globo.

O que temos de informação, portanto, é apenas a proposta global da Turner/EI, tornada pública na mídia, que explicamos abaixo:

A proposta do Esporte Interativo pelos direitos de TV Fechada é de R$ 550 milhões por temporada, entre 2019 e 2024. Este número representa o valor total que o Esporte Interativo pagará caso detenha estes direitos de todos os Clubes que disputarem a competição em tais temporadas. Se o Esporte Interativo não detiver os direitos de todos os Clubes, esse valor será proporcionalmente ajustado, conforme acordo entre os Clubes e o Esporte Interativo. O valor aplicável será rateado entre os Clubes, observando-se os seguintes critérios: 50% a título de cota fixa; 25% por colocação no campeonato; e 25% de acordo com a audiência na TV. Isso geraria ao Flamengo, valores entre 55 e 75 milhões. Porém, há indícios de que o valor poderia melhorar, pois em recente negociação, a proposta destinada ao São Paulo FC teria chegado a 90 milhões, lembrando, apenas por uma das 5 modalidades, a da TV fechada.

Sendo a proposta apenas para TV Fechada, podemos realizar comparação com a proposta da Globo, referente a modalidade de TV Fechada, ou seja, para transmissão via SPORTV.

A oferta do Grupo Globo também se tornou pública nos últimos dias. Segundo as fontes que divulgaram essa oferta, o Grupo Globo teria oferecido R$ 1.1 bilhão por temporada pelos direitos de TV Aberta (TV Globo) e TV Fechada (SporTV) em conjunto.

É informação pública, noticiada por várias fontes sobre cada clube, que o valor total de TV Aberta pago pela TV Globo referente ao Campeonato de 2016 é de R$ 840 milhões. Presumindo que a TV Globo não propôs nenhum aumento (e que seria impensável que os Clubes concordassem em reduzir os valores do atual contrato de TV Aberta), o valor projetado dos direitos de TV Aberta, corrigido pelo IPCA, para a temporada de 2019 seria de R$ 1.02 bilhão.

De acordo com a oferta do Grupo Globo divulgada, portanto, o valor da proposta dos direitos de TV Fechada para o SporTV seria de R$ 98 milhões por temporada. Isso equivale a apenas 18% da oferta do Esporte Interativo, de R$ 550 milhões por temporada, pelos mesmíssimos direitos.

Mas e as Luvas? Segundo o Blog do Rodrigo Mattos, o Flamengo receberia 120 milhões a título de luvas, sendo a primeira parcela de 70 milhões, já neste ano. Pelo divulgado no UOL esporte, em recente negociação com o São Paulo FC, a Turner/EI teria igualado os valor oferecido a título de luvas ao clube. Podemos concluir também que a proposta ao Flamengo poderia conter valores a titulo de luvas, o que atenderia a necessidade atual mais urgente de recursos para cobrir a falta de patrocinadores.

E então, diante destes dados e explicações, qual deveria ser o caminho a seguir pelo Clube de Regatas do Flamengo?

Entendemos que o Flamengo deveria retornar a mesa de negociações e, seguindo a orientação do CADE, aceitar negociaras 5 plataformas de maneira separada, gerando uma real concorrência, da qual o Flamengo poderia aferir uma maior receita e seus torcedores uma maior qualidade nas transmissões, pois é isso que um mercado livre, que disputa sua audiência, acaba gerando.

Abaixo segue uma tabela que mostra a evolução das receitas que a Globo obtém vendendo publicidade durante a transmissão dos jogos que compra dos clubes. Apesar da crise, aumenta todo ano. Como são 7 cotas, o que ela fatura de publicidade é o valor da tabela multiplicado por 7, que em 2016, totaliza 1 bilhão e 700 milhões.

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